A delegada e pesquisadora em violência contra a mulher, Dra. Gabriela Garrido, trouxe uma reflexão contundente sobre a origem e a importância da Lei Maria da Penha, considerada um marco no enfrentamento à violência doméstica no Brasil. Segundo a delegada Dra Gabriela Garrido a legislação só foi criada após o país ser condenado por uma corte internacional, o que evidencia a negligência histórica em relação ao sofrimento das mulheres.
“Fomos denunciados lá fora porque aqui dentro a dor das mulheres nunca foi suficiente para gerar mudança. A violência era, e muitas vezes ainda é, tratada como exagero, como problema de casal, como se a vítima tivesse provocado”, destacou Garrido.
Apesar dos avanços, a delegada ressalta que a simples existência da lei não é suficiente para erradicar a violência. O que perpetua as agressões, segundo ela, é a cultura que naturaliza comportamentos machistas, o silêncio social diante de episódios de abuso e a descredibilização das mulheres.
“Não é só com prisão que a violência vai acabar. O que sustenta esse ciclo é o riso da piada machista, o silêncio de quem vê e não faz nada, o ‘ela é louca’ que desqualifica tantas mulheres. Todas nós já fomos rotuladas assim em algum momento. É a forma como a sociedade nos silencia e desacredita”, afirma.
Garrido ainda chama atenção para os estigmas enfrentados pelas vítimas. “Se a mulher denuncia, dizem que é porque quer aparecer. Se apanha, é porque ficou. Se se impõe, é porque é agressiva. Se é promovida, é porque teve que se submeter ao chefe. São discursos que reforçam a cultura de violência e desvalorização”, completou.
Para a pesquisadora, a transformação precisa ir além da repressão penal. A mudança cultural é o desafio mais urgente. “A Lei Maria da Penha foi necessária, mas o mais urgente é mudar a cultura que faz essa lei ainda ser tão necessária. Isso só será possível com educação, com homens assumindo suas responsabilidades e com uma sociedade inteira, homens e mulheres, entendendo que se calar é ser cúmplice.”