Um grupo de jornalistas realizou, protesto um ato na Câmara dos Deputados para denunciar episódios de censura, violência e impedimento ao trabalho da imprensa dentro da Casa. A manifestação ocorreu um dia após repórteres, cinegrafistas e fotógrafos terem sido alvo de agressões físicas e intimidações por parte de policiais legislativos durante a cobertura das atividades parlamentares.
De acordo com relatos de profissionais presentes no local e com imagens amplamente divulgadas, policiais legislativos utilizaram força desproporcional para impedir a movimentação da imprensa, empurrando, puxando e bloqueando equipes de comunicação que tentavam registrar a sessão. As agressões incluíram cotoveladas, empurrões violentos e tentativas deliberadas de afastar equipamentos de gravação. Em alguns casos, jornalistas precisaram de atendimento médico por conta de dores e escoriações decorrentes da ação policial.
Profissionais que testemunharam o episódio afirmaram que nunca havia visto tamanha truculência dentro do Parlamento, tradicionalmente um dos principais espaços de livre circulação da imprensa no país. O clima, segundo eles, foi de tensão e insegurança, com policiais avançando contra jornalistas mesmo após pedidos para que o direito ao trabalho fosse respeitado.
Diante da gravidade dos fatos, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) divulgou uma nota classificando o episódio como uma “afronta direta à liberdade de imprensa e à integridade dos profissionais de comunicação”. A entidade informou que tomará uma série de medidas jurídicas e institucionais para responsabilizar os envolvidos e impedir novos ataques.
Entre as ações anunciadas pela ABI estão:
• Representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) por crime de responsabilidade do presidente da Câmara, diante da violação dos direitos constitucionais à liberdade de imprensa e de expressão;
• Denúncia à Relatoria Especial de Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), buscando atenção internacional para o episódio e possíveis medidas de proteção;
• Representação na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, acusando o presidente da Casa de quebra de decoro parlamentar e omissão diante da violência cometida por agentes sob sua autoridade.
A ABI destacou ainda que o episódio contribui para o agravamento de um ambiente hostil ao trabalho jornalístico no Brasil, país que historicamente ocupa posições preocupantes em rankings internacionais de liberdade de imprensa.
Apesar da mobilização das entidades e do pedido de reunião para tratar do caso, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), não compareceu ao encontro solicitado por representantes da imprensa. Em seu lugar, enviou apenas uma assessora, gesto que foi interpretado por parte dos profissionais como falta de disposição para dialogar e enfrentar o problema.
Horas depois, por meio de uma rede social, Motta afirmou que determinou a “apuração de possíveis excessos em relação à cobertura da imprensa”, mas não mencionou se pretende rever protocolos de segurança interna ou estabelecer garantias adicionais para o livre exercício da atividade jornalística no Parlamento.
Enquanto isso, jornalistas seguem cobrando uma resposta mais firme da Mesa Diretora e medidas urgentes para evitar que cenas semelhantes voltem a ocorrer. Eles defendem a revisão do treinamento da Polícia Legislativa, a elaboração de regras claras de circulação da imprensa e a responsabilização exemplar dos agentes envolvidos.
Para entidades que acompanham o caso, o episódio desta terça-feira representa um ponto de alerta sobre a relação entre instituições públicas e a imprensa em um ambiente democrático. O ato realizado hoje na Câmara reforça o compromisso dos profissionais com a defesa da liberdade de expressão e reafirma que, mesmo diante de violência e intimidação, a sociedade precisa de uma imprensa livre, segura e capaz de fiscalizar o poder público sem pressões ou ameaças.





