Uma rotina marcada pelo trabalho árduo nas ruas da capital federal também escondia uma realidade de dor e preconceito. Um varredor de rua, funcionário da empresa Valor Ambiental, responsável pela limpeza urbana do Distrito Federal, foi demitido após denunciar que sofria discriminação religiosa no ambiente de trabalho por ser adepto da umbanda. A Justiça reconheceu a prática de racismo religioso e condenou a empresa a pagar R$ 15 mil em indenização por danos morais.
A decisão foi proferida pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 10ª Região no último dia 23. No processo, o trabalhador relatou episódios de xingamentos e atitudes discriminatórias motivadas por sua fé, uma situação que, segundo ele, se agravou após tentar buscar apoio e denunciar o comportamento dos colegas. Em vez de providências, recebeu a demissão como resposta.
A Justiça entendeu que houve violação ao direito fundamental de liberdade religiosa e à dignidade da pessoa humana. A sentença destaca ainda que o ambiente de trabalho deve ser um espaço de respeito e igualdade, onde manifestações de fé não podem ser motivo de perseguição ou exclusão.
Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), casos de discriminação no ambiente laboral ainda são comuns. Apenas até 31 de julho deste ano, foram registradas 515 denúncias relacionadas a discriminação por cor, origem ou etnia. Em 2024, esse número chegou a 718. Situações que envolvem religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé, costumam ser ainda mais invisibilizadas. O MPT reforça que essas práticas são ilegais e devem ser denunciadas.
A decisão do TRT não apenas reconhece o sofrimento do trabalhador, mas também abre caminho para que outros casos semelhantes sejam levados à Justiça. É um alerta para as empresas sobre a necessidade de criar ambientes inclusivos e respeitosos, onde nenhum profissional seja punido por exercer sua fé.
Enquanto isso, o varredor de rua, agora desempregado, tenta reconstruir sua trajetória longe da intolerância. Seu caso se soma ao de tantos brasileiros que seguem enfrentando, muitas vezes em silêncio, a violência disfarçada sob o uniforme do preconceito.