Diante da iminente imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, o governo federal já admite que dificilmente será possível chegar a um acordo com o país norte-americano antes de 1º de agosto. A avaliação é de que faltam sinais concretos de abertura ao diálogo por parte da administração norte-americana, apesar das diversas tentativas de aproximação feitas pelo Brasil nas últimas semanas.
Em razão do cenário adverso, autoridades brasileiras passaram a considerar como alternativa a negociação setorial. A estratégia, segundo fontes do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), consistiria em focar setores específicos da pauta exportadora brasileira, como suco de laranja, café e aeronaves.
Esses segmentos têm sido impulsionados, sobretudo, pela pressão do setor privado norte-americano, que teme os impactos das tarifas sobre a cadeia produtiva e de consumo local. Empresas e associações empresariais dos EUA estariam pressionando o governo Biden a reavaliar a medida, o que abre uma brecha para possíveis acordos pontuais.
“Não há, neste momento, espaço político suficiente para um acordo amplo. Mas entendemos que setores com forte interdependência bilateral podem ser uma porta de entrada para soluções mais específicas”, afirmou um diplomata envolvido nas tratativas.
A medida tarifária foi anunciada pelos EUA como parte de uma estratégia mais ampla de proteção da indústria local. No entanto, especialistas em comércio internacional alertam para os riscos de uma escalada protecionista entre os dois países, que historicamente mantêm relações comerciais estáveis.
Os produtos em discussão representam uma parcela relevante das exportações brasileiras aos EUA. Em 2023, o Brasil exportou mais de US$ 1 bilhão em suco de laranja e café combinados para o mercado americano. Já o setor aeronáutico, liderado pela Embraer, mantém parcerias estratégicas com empresas norte-americanas e pode ser duramente afetado pelas tarifas.
A poucos dias do prazo final, representantes brasileiros mantêm canais abertos com interlocutores dos setores produtivos norte-americanos. A expectativa é de que esse movimento possa ao menos mitigar os impactos para os produtos mais sensíveis, ainda que a resolução completa do impasse pareça distante.
Caso não haja avanços até o início de agosto, o governo brasileiro estuda, ainda, acionar organismos multilaterais e avaliar eventuais medidas de retaliação, dentro dos limites estabelecidos pela Organização Mundial do Comércio (OMC).