Até pouco tempo, em meio ao aumento da violência nos centros urbanos, ter um filho adolescente em casa, sob os olhos de seus responsáveis, era motivo de alívio. Hoje, na era das redes sociais, é preciso redobrar a atenção com o que eles fazem no universo online. A série ‘Adolescência’, disponível em uma plataforma de streaming, reacende o debate sobre os perigos do uso excessivo de telas por crianças e adolescentes e os impactos disso na saúde mental, física e no desenvolvimento social.
“O que chamamos de tecnoestresse é mais problemático pela perda da concentração, da empatia, do aumento da irritabilidade e da agressividade, causando alterações do comportamento como ansiedade e depressão, do relacionamento familiar e social, de transtornos de aprendizado e de outras complicações. A supervisão, a participação e a presença ativa dos familiares nas atividades online exercidas por crianças e adolescentes são fundamentais”, alerta a Dra. Leila Maas, hebiatra do Grupo Fleury, detentora da Diagnoson a+ na Bahia.
Dependência digital: é preciso agir
A especialista destaca que também é fundamental identificar e avaliar o uso inadequado, precoce e excessivo desses eletrônicos por crianças e adolescentes para tratamento, ações imediatas e prevenção do aumento dos transtornos físicos, mentais e comportamentais associados à dependência digital.
O excesso de telas, aliado à falta de atividade física, pode trazer ansiedade, depressão, interferência na qualidade do sono, dificuldades de concentração, problemas de atenção, cansaço visual, dores de cabeça, dificuldades na socialização, isolamento social e aumento do comportamento sedentário, sendo este relacionado também à obesidade.
Para reverter o quadro, a médica orienta: dialogar e não permitir que crianças e adolescentes fiquem isolados nos quartos com televisão, computador, tablets, celular, smartphones ou webcam, assim como estimular o uso, controlado, nos locais comuns da casa. É importante evitar telas durante as refeições e desconectar uma ou duas horas antes de dormir.
Menos tela, mais movimento
“Crianças e adolescentes devem ser encorajados a participar de uma variedade de atividades físicas agradáveis e seguras que contribuam para o desenvolvimento natural, tais como caminhadas, andar de bicicleta, praticar esportes diversos e se envolver em jogos e brincadeiras tradicionais da comunidade em que estão inseridos. Essas atividades melhoram os aspectos físico, emocional e social. Adolescentes precisam de mais tempo com a família, mais memórias afetivas e condições para o crescimento saudável, que só acontece com amor, atenção e cuidado. E isso não se encontra nas telas”, frisa a Dra. Leila.
De acordo com a médica hebiatra, a recomendação é que crianças e adolescentes entre 6 e 19 anos pratiquem pelo menos 60 minutos diários de atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa aquelas que aceleram a respiração e aumentam os batimentos cardíacos, como nadar, correr, brincar em playgrounds, pular ou mesmo caminhar em ritmo acelerado. Exercícios de força, como musculação, devem ter supervisão do profissional de educação física, evitando-se, assim, excessos, lesões e eventuais prejuízos à estatura final do adolescente.
“Se necessário, é possível usar a tecnologia para a prática de exercícios físicos e inverter a lógica de que ela necessariamente está ligada ao sedentarismo. Ter aplicativos, games, planilhas e instruções de acesso à atividade física dentro da realidade do adolescente, ou seja, pelo celular, pode ser um uso inteligente da tecnologia para combater o sedentarismo”, destaca a médica.
Saúde mental
Há uma preocupação muito grande com as taxas de obesidade em adolescentes, mas também com as taxas de depressão e tentativas de suicídio, por exemplo, e a atividade física pode ajudar nessas questões. Por outro lado, as redes sociais podem paralisar e comprometer o quadro psíquico desses jovens.
O esporte, além de promover saúde física, contribui para o desenvolvimento de habilidades sociais, a construção de vínculos, a melhora da autoestima e o fortalecimento do bem-estar emocional. E, quando se fala de habilidades sociais, a relação está na capacidade de dialogar, de ver o outro, de cooperar ou de competir de forma saudável.
Por isso a importância de oferecer aos adolescentes boas referências, tanto na mídia quanto fora dela, como é o caso da skatista brasileira Rayssa Leal , além de reforçar a necessidade de escuta ativa e presença dos pais nesse período tão marcante da vida. Quando necessário, o acompanhamento psicológico também deve ser considerado.