O canal do governo federal para denúncias de violência contra a mulher, o Ligue 180, registrou uma média de 91,8 ocorrências por dia no estado de São Paulo entre janeiro e novembro deste ano. No período, foram contabilizados 30.673 casos, segundo dados do Painel do Ligue 180. Parte significativa dessas denúncias evolui para situações extremas, incluindo o feminicídio.
Os números colocam São Paulo no centro da crise da violência de gênero no país. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o estado concentrou 17% de todos os feminicídios registrados no Brasil e 24% das lesões corporais decorrentes de violência doméstica no ano passado.
Na capital paulista, o cenário é ainda mais alarmante. A cidade de São Paulo registrou 53 feminicídios entre janeiro e outubro de 2025, um recorde desde o início da série histórica, em 2015. Mesmo sem a consolidação dos dados de novembro e dezembro, o número já supera todos os anos anteriores.
Diante do avanço das estatísticas, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou um inquérito para apurar uma possível omissão do governo do estado de São Paulo no enfrentamento à violência contra a mulher. Segundo o órgão, o recorde de feminicídios na capital foi um dos principais fatores que motivaram a abertura da investigação.
Em nota, a Promotoria também destacou cortes orçamentários em políticas públicas voltadas ao combate da violência de gênero, apontando que a redução de recursos pode ter impacto direto na prevenção, no acolhimento das vítimas e na repressão aos crimes.
O inquérito do MPF é reforçado por casos recentes de grande repercussão, como o feminicídio de Tainara Souza Santos, de 31 anos. A jovem foi arrastada por cerca de um quilômetro pelo ex-companheiro na Marginal Tietê, na zona norte da capital, enquanto ainda estava viva. Ela não resistiu aos ferimentos e morreu no dia de Natal, 25 de dezembro. O MPF classificou o crime como “emblemático”, por evidenciar a brutalidade da violência e possíveis falhas na proteção da vítima.
Com a investigação, o Ministério Público busca apurar se houve negligência estrutural do poder público estadual e avaliar a adoção de medidas para reforçar políticas de prevenção, proteção às mulheres e responsabilização dos agressores, em um contexto de escalada da violência que preocupa autoridades e especialistas em direitos humanos.
Estado registra média de quase 92 denúncias por dia no Ligue 180; capital bate recorde histórico de feminicídios em 2025.





