“Cada um tem a vida que merece”. A frase, tão repetida em rodas de conversa, redes sociais e discursos meritocráticos, carrega um peso que, muitas vezes, passa despercebido. Para a delegada e pesquisadora em violência contra a mulher, Dra. Gabriela Garrido, essa ideia é, além de simplista, perigosa. Ela perpetua estigmas, invisibiliza desigualdades e silencia vítimas. Segundo a delegada Dra Gabriela Garrido , “essa frase é cruel. E ela mente”.
Em seu trabalho na linha de frente do enfrentamento à violência doméstica, a delegada Dra. Gabriela Garrido tem contato diário com histórias que desmentem essa lógica. Mulheres que apanham dentro de casa, que criam filhos sozinhas, sem apoio, com medo, fome e dor. Realidades que não são fruto de escolhas individuais, mas de uma estrutura social que já traça os destinos com base em gênero, classe e raça.
“A meritocracia gosta de fingir que todo mundo começa do mesmo lugar”, diz a delegada Dra Gabriela Garrido.Mas, desde cedo, as meninas aprendem que precisam aguentar, calar, suportar. Que homens são assim mesmo. Que se houve violência, a culpa foi delas. Essas narrativas reforçam um ciclo que mantém mulheres presas a relações abusivas, muitas vezes sem alternativas viáveis.
A delegada Dra. Gabriela Garrido chama atenção para a falta de políticas públicas e redes de apoio efetivas. Muitas vítimas não saem de casa porque não têm para onde ir. Não têm recursos financeiros, apoio familiar ou segurança. Não ficam porque querem. Ficam porque o sistema falhou com elas.
Romper esse ciclo, segundo ela, não é questão de sorte. É resistência. É coragem. E não deveria ser um ato heroico, mas um direito garantido por uma sociedade justa.
A mensagem final a delegada Dra Gabriela Garrido é um chamado à reflexão e à ação. Da próxima vez que alguém repetir que cada um tem a vida que merece, questione. Nem todos tiveram as mesmas chances. Algumas vidas são apagadas antes mesmo de florescerem. A violência contra a mulher não é destino. É crime. E precisa ser enfrentado como tal.
Para denunciar casos de violência doméstica, ligue 180.
O silêncio não protege. A culpa nunca é da vítima.