Um dia após o Departamento de Comércio dos Estados Unidos anunciar a abertura de uma investigação contra o Brasil por supostas práticas desleais, autoridades brasileiras se reuniram nesta quarta-feira, em Brasília, para debater a resposta do país ao que classificam como uma tentativa injusta de impor barreiras comerciais.
Participaram do encontro o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin , o presidente do Senado, Davi Alcolumbre ,e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta .Ao final da reunião, os líderes reforçaram o compromisso com a defesa da soberania nacional e prometeram uma atuação coordenada para contestar a postura do governo americano.
“Estamos unidos para defender a soberania nacional. O presidente Lula tem enfatizado isso e a separação dos Poderes é pedra basilar do Estado de direito da democracia. E, na questão comercial, entendemos que é um equívoco do governo americano”, afirmou Alckmin. Segundo ele, os dados do comércio bilateral não justificam as medidas anunciadas por Washington.
O vice-presidente destacou que os Estados Unidos mantêm superávit na balança comercial com o Brasil e que a maioria dos produtos exportados ao mercado brasileiro não sofre qualquer taxação. “Dos dez produtos que eles mais exportam, oito não pagam nada de imposto. A tarifa média de importação é de 2,7%. Então é totalmente inadequado e injusto e nós vamos trabalhar juntos para reverter essa situação. Vamos juntos”, completou.
A investigação aberta pelos EUA mira uma ampla gama de setores, incluindo o comércio digital, serviços de pagamento eletrônico, práticas anticorrupção, proteção de propriedade intelectual, questões ambientais como o combate ao desmatamento ilegal e até o acesso ao mercado brasileiro de etanol. Segundo comunicado divulgado por Washington, o objetivo é apurar o que consideram ser políticas e práticas que colocam empresas americanas em desvantagem no mercado brasileiro.
Nos bastidores do governo brasileiro, a avaliação é que a iniciativa tem motivações políticas e protecionistas, sobretudo em um contexto pré-eleitoral nos Estados Unidos. A diplomacia brasileira já iniciou articulações com organismos multilaterais e pretende levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), caso as sanções comerciais sejam efetivadas.
O Congresso Nacional também prometeu mobilização. Para Davi Alcolumbre, o momento exige união entre os Poderes e firmeza na defesa dos interesses do Brasil. “Não vamos aceitar que medidas unilaterais prejudiquem a economia brasileira sem diálogo ou justificativa técnica. A resposta será institucional, transparente e baseada no respeito mútuo entre as nações”, disse o presidente do Senado.
Já Hugo Motta ressaltou a importância de preservar a autonomia do país na formulação de suas políticas internas. “O Brasil é um parceiro comercial confiável e comprometido com boas práticas. Esperamos que o bom senso prevaleça”, afirmou.
A expectativa é que o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, chefiado por Alckmin, coordenem os próximos passos da resposta diplomática brasileira. O governo deve divulgar nas próximas semanas uma nota técnica com dados oficiais da balança comercial para subsidiar a argumentação contra o chamado “tarifaço” americano.