Evidências indicam que a prática faz mal à saúde docente e prejudica a qualidade do ensino e da aprendizagem dos estudantes. A pesquisadora responsável pelo levantamento foi entrevistada do CBN Noite Total desta quinta-feira (14) e deu detalhes sobre o tema
Cerca de 450 mil professores trabalham em duas ou mais escolas no Brasil. Mais de um terço dos professores de ensino médio precisa dar aulas em vários lugares no país. Os dados são de uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas feita em parceria com a Universidade de Stanford e o D³e (Dados para um Debate Democrático na Educação).
Gabriela Moriconi, uma das autoras da pesquisa, conversou com Marcella Lourenzetto no CBN Noite Total desta quinta-feira (14), e revelou que a equipe por trás do levantamento estuda hipóteses para identificar o porquê deste cenário.
Encontramos pesquisas que foram ver os impactos dessa situação na vida dos professores”, destaca Moroconi. “Têm pesquisas que mostram que o trabalho em múltiplas escolas afeta o bem estar e a saúde dos professores. Existem evidências que professores que acumulam jornadas extensas em mais de uma escola têm mais chances de se ausentar do trabalho por problemas de saúde, principalmente por questões psicológicas e relacionadas à voz, e também pesquisas que apontam para os problemas que decorrem na qualidade do trabalho. Professores que trabalham em mais de uma escola conseguem participar menos das atividades coletivas da escola e dar menos apoio acadêmico para os estudantes
Apesar de o trabalho em mais de uma escola ser normalizado inclusive por professores, a prática pode ser prejudicial em vários aspectos. A reclamação sobre a baixa remuneração dos docentes não é nova no país, mas as duplas ou triplas jornadas nem sempre ocorrem apenas por causa de dinheiro. “O principal objetivo da pesquisa é ajudar a explicar o que faz uma proporção tão expressiva de professores trabalharem em mais de uma escola no Brasil, o que não é comum em diversos países que a gente tem dados do mundo”.
Em algumas disciplinas, como física, química e biologia, cerca de 40% dos docentes encaram jornadas múltiplas de trabalho em mais de uma unidade. O levantamento destacou, ainda, que o acúmulo de trabalho em mais de uma escola é mais comum em etapas intermediárias da carreira, sendo a situação de 20% dos professores com idade entre 36 e 45 anos.