No sul da Bahia, na Terra Indígena Caramuru/Paraguassu, uma pesquisa inovadora vem resgatando os conhecimentos tradicionais do povo Pataxó Hã-Hã-Hãi sobre o uso de plantas medicinais. O estudo é conduzido por Hemerson Dantas dos Santos Pataxó Hãhãhãi, pesquisador indígena e doutorando do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A investigação teve início com uma meta clara: encontrar tratamentos naturais para três das enfermidades mais recorrentes na comunidade indígena, que são verminoses, diabetes e hipertensão. A partir desse objetivo inicial, a pesquisa cresceu em escopo e relevância, alcançando uma profunda imersão nos saberes tradicionais.
Hemerson passou a catalogar plantas medicinais usadas por seu povo e, ao longo do processo, registrou 175 espécies diferentes. O trabalho representa não apenas um avanço acadêmico, mas também um importante movimento de valorização e preservação da medicina ancestral indígena, muitas vezes marginalizada ou esquecida com o passar das gerações.
Segundo o pesquisador, além das plantas nativas do território, chamou atenção o número significativo de espécies exóticas, ou seja, não originárias da região, que foram incorporadas ao uso medicinal ao longo do tempo. Essa descoberta revela a capacidade de adaptação e reinvenção do conhecimento tradicional diante das mudanças no ambiente e no contato com outras culturas.
“A pesquisa é também uma forma de resistência. Ao resgatar esses saberes, estamos reafirmando a importância do conhecimento indígena e sua contribuição para a saúde e a ciência”, afirma Hemerson.
A iniciativa reforça o papel das comunidades tradicionais como guardiãs da biodiversidade e do saber ecológico, além de abrir caminho para o diálogo entre o conhecimento científico e a medicina tradicional. O estudo também pode servir de base para políticas públicas voltadas à saúde indígena e à preservação do patrimônio cultural imaterial.
O trabalho de Hemerson é um exemplo potente de como a ciência pode caminhar junto com os saberes ancestrais, fortalecendo a identidade dos povos originários e promovendo soluções sustentáveis para desafios de saúde pública.