O grito de Bruna Titiá, 19 anos, ecoa com a força de quem carrega uma ancestralidade milenar e o desejo de um futuro digno: “O que queremos é respeito”. A frase foi dita com firmeza e serenidade horas após o nascimento de sua primeira filha, Lizzy Titiá, no leito 1 do Centro de Parto Normal do Hospital Materno Infantil Dr. Joaquim Sampaio , em Ilhéus. A jovem da Aldeia Caramuru Paraguaçu território indígena com cerca de 5 mil habitantes na zona rural do município de Pau Brasil amamentava a recém-nascida enquanto falava com esperança sobre o futuro.
“Quero que Lizzy cresça sabendo de onde veio, com orgulho do seu povo e das nossas tradições. Que ela tenha oportunidades, mas sem esquecer quem é”, disse Bruna, com os olhos atentos à filha, envolta nos braços da mãe e na ternura do primeiro contato com o mundo.
A escolha pelo Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio não foi por acaso. O hospital, inaugurado em dezembro de 2021, é o único da Bahia com habilitação do Ministério da Saúde para oferecer atendimento especializado às populações indígenas. A conquista foi viabilizada pela articulação entre a Secretaria Estadual da Saúde e a Fundação Estatal Saúde da Família, responsável pela gestão da unidade.
Bruna conta que optou pelo hospital após ouvir relatos positivos sobre o acolhimento e a estrutura do local. “E isso tudo eu confirmei aqui. O atendimento foi respeitoso, humanizado. Eu fui ouvida o tempo todo”, destaca.
A jovem chegou à Emergência Obstétrica do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio na tarde da quarta-feira, 16 de abril. Às 19h30, Lizzy veio ao mundo. “Comecei o trabalho de parto no chuveiro, acompanhada por minha mãe e pelas enfermeiras obstetras. Depois a dor arrochou e eu vim pra cama, onde pari”, relata com naturalidade.
O nascimento de Lizzy no hospital referência simboliza mais do que um evento clínico. Representa um elo entre a ciência e a cultura, entre o cuidado técnico e o respeito às especificidades de um povo historicamente marginalizado. A presença de profissionais capacitados para atender mulheres indígenas de forma respeitosa e culturalmente sensível é uma conquista que Bruna faz questão de valorizar.
“A gente já sofreu muito por não ser tratada com dignidade. Agora é diferente. Aqui eu me senti segura”, afirma.
Enquanto o sol se punha do lado de fora do hospital, Lizzy dormia tranquilamente no colo da mãe. No silêncio do quarto, uma certeza: a luta por respeito continua – agora, com uma nova geração.