A série Adolescência se tornou um fenômeno global. Está entre as mais assistidas em mais de 70 países e, apesar de ser uma obra de ficção, tem raízes profundamente fincadas na realidade. Inspirada em dois casos verídicos ocorridos na Inglaterra nos quais meninos esfaquearam colegas de escola , a produção levanta um alerta necessário: o que está levando adolescentes a recorrerem à violência extrema como forma de lidar com seus conflitos?
A delegada Dra. Gabriela Garrido, destaca que a série vai além da dramatização de um crime juvenil. “Ela nos obriga a confrontar uma realidade urgente: jovens estão sendo cooptados por comunidades online misóginas e violentas, e a sociedade ainda não sabe como responder a isso”, afirma a delegada Dra. Gabriela Garrido.
Na trama, acompanhamos Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado de assassinar um colega. O crime, por si só, já choca. Mas o impacto da série está em sua abordagem imersiva: sem cortes aparentes, cada episódio coloca o espectador dentro do caos emocional, psicológico e social que cerca Jamie. Não há distanciamento, o desconforto é parte da experiência. E é justamente esse desconforto que nos leva à reflexão.
A série escancara a influência dos fóruns obscuros da internet, nos quais jovens frustrados encontram acolhimento para seus ressentimentos e, com isso, são alimentados por discursos de ódio, especialmente contra mulheres. Essas comunidades, muitas vezes travestidas de “autoajuda masculina”, perpetuam a cultura da supremacia masculina e normalizam o desprezo ao feminino.
A delegada Dra. Gabriela Garrido, tem analisado o impacto da série sob a ótica social. Para ela, a adolescência expõe um fenômeno urgente: a formação de comunidades online que oferecem identidade e propósito a jovens perdidos, mas às custas da disseminação de discursos de ódio, sobretudo contra mulheres.
“O protagonista não nasceu violento. Ele aprendeu. E isso é o mais preocupante”, observa a delegada Dra. Gabriela Garrido. “A radicalização desses jovens acontece muitas vezes dentro de seus quartos, longe dos olhos da escola, da família e da sociedade.”
A adolescência também expõe a falência das instituições tradicionais em lidar com essa nova realidade digital. A cultura dos “meninos serão meninos”, que minimiza comportamentos agressivos, impede que os sinais de alerta sejam levados a sério até que seja tarde demais.
Quando a tragédia se concretiza, a reação coletiva é instantânea: a comoção nas redes sociais transforma o sofrimento em espetáculo. Há a busca por culpados, por explicações simples para um problema complexo, tudo por engajamento.
Mas Adolescência não é só mais uma série de suspense. Ela é um sinal de alerta. Uma provocação urgente. Ao final de cada episódio, é impossível não se questionar: quantos adolescentes podem estar trilhando esse mesmo caminho agora?
Segundo a delegada Dra. Gabriela Garrido, a série nos obriga a fazer perguntas que, muitas vezes, preferimos evitar: por que adolescentes estão recorrendo à violência para resolver conflitos? Estamos atentos ao que nossos filhos consomem online? O que eles estão aprendendo e com quem?
O sucesso global da série mostra que esse não é um problema restrito a um país. Trata-se de um fenômeno mundial. E, como sociedade, precisamos encarar essa realidade de frente.
Estamos prestando atenção no que os jovens consomem online? Sabemos o que eles assistem, o que leem, com quem interagem? Estamos preparados para enfrentar o impacto das comunidades de ódio que crescem nos bastidores da internet?
Adolescência incomoda, choca, perturba mas, acima de tudo, faz pensar. E pensar, em tempos de radicalização digital, é mais necessário do que nunca.