Apesar de uma leve redução na diferença entre os gêneros, as mulheres seguem sendo o grupo mais afetado pelo endividamento no Brasil. É o que revela a mais recente edição da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada neste mês pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Em fevereiro de 2025, 76,9% das mulheres estavam endividadas, contra 76% dos homens. Embora a diferença atual seja de apenas 0,9 ponto porcentual, ela já foi maior: em fevereiro de 2024, o índice feminino era de 78,8%, frente a 77,2% entre os homens — uma diferença de 1,6 ponto.
Os dados indicam que, embora a distância esteja diminuindo, as mulheres seguem liderando os índices de endividamento. Uma das explicações está no papel que muitas desempenham dentro dos lares brasileiros. Em famílias de baixa renda, é comum que as mulheres sejam as únicas responsáveis pelo sustento do domicílio, arcando sozinhas com os custos de moradia, alimentação, educação e saúde dos filhos.
Além da CNC, dados da Serasa, empresa especializada em informações de crédito, reforçam essa realidade. A companhia aponta que, mesmo com o maior índice de endividamento, as mulheres demonstram mais empenho na regularização de suas dívidas. Programas de renegociação de crédito, como os promovidos pela própria Serasa, costumam ter maior adesão feminina, o que revela uma postura ativa em relação à quitação de débitos.
Para especialistas, o cenário evidencia tanto a pressão econômica enfrentada pelas mulheres, quanto a sua responsabilidade financeira no cuidado com a família. A mulher brasileira é protagonista no orçamento doméstico. Ela compra, planeja e busca alternativas para manter a estabilidade financeira da casa, mesmo com recursos limitados.
A pesquisa da CNC também apontou que o cartão de crédito continua sendo o principal vilão do endividamento, especialmente entre as mulheres, que o utilizam como alternativa para equilibrar o orçamento no fim do mês. Outras modalidades, como carnês, crédito pessoal e empréstimos, também pesam mais no bolso feminino.
A expectativa, segundo os analistas, é que medidas de educação financeira, acesso a crédito mais justo e políticas públicas de apoio às famílias de baixa renda possam ajudar a reduzir a vulnerabilidade das mulheres ao endividamento sem comprometer seu papel essencial na sustentação econômica de milhões de lares brasileiros.