Uma pesquisa inédita realizada pelo DataSenado em parceria com a Nexus e o Observatório da Mulher contra a Violência trouxe à tona um dado alarmante: 85% das mulheres negras vítimas de violência doméstica ou familiar e sem renda suficiente para se manter continuam convivendo com seus agressores. Esse número é quatro vezes maior do que a média de mulheres negras que relatam ter sofrido algum tipo de agressão, independentemente da renda (21%).
O levantamento, intitulado Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher Negra, entrevistou 13.977 mulheres negras autodeclaradas pretas ou pardas, com idade a partir de 16 anos, entre agosto e setembro de 2023.
A pesquisa evidencia como a dependência econômica é um dos principais fatores que aprisionam mulheres em ciclos de violência. Sem acesso a recursos financeiros suficientes, muitas delas não têm alternativas para sair do ambiente abusivo, mesmo enfrentando agressões recorrentes.
“Esses dados mostram a necessidade de políticas públicas integradas que ofereçam suporte financeiro, abrigo e capacitação profissional para as mulheres que desejam romper com essa situação de violência”, destacou a advogada e especialista em direitos das mulheres, Dra. Iracema Silva.
O estudo também revela como o recorte racial agrava a vulnerabilidade. Segundo especialistas, a discriminação racial e de gênero, associada a condições socioeconômicas desfavoráveis, coloca as mulheres negras em uma posição de maior exposição à violência.
A secretária de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude de Salvador, Dra. Fernanda Lordêlo, os resultados são um alerta: “A falta de renda não é apenas um problema econômico, mas uma barreira estrutural que perpetua a desigualdade e a violência contra mulheres negras.”
Diante dos números preocupantes, o Observatório da Mulher contra a Violência reforçou a urgência de ampliar programas de transferência de renda, qualificação profissional e acesso a serviços de acolhimento, como casas abrigo e centros de atendimento especializados.
Além disso, especialistas defendem a ampliação de campanhas de conscientização voltadas para a população negra e o fortalecimento da Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres.
Os dados do levantamento evidenciam que a violência doméstica não é apenas um problema individual, mas um reflexo das desigualdades sociais e raciais que ainda persistem no Brasil. A solução exige uma resposta coletiva e integrada que leve em conta as especificidades das mulheres negras e as barreiras que enfrentam no dia a dia.
Com informações do DataSenado, Nexus e Observatório da Mulher contra a Violência.